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quinta-feira, 18 de março de 2010

2010. O ano em que o Papa e Obama põem Portugal no centro do mundo

As visitas oficiais não serão suficientes para distrair os portugueses das dificuldades, alertam os especialistas




Um é progressista, mobilizador e negro. O outro é conservador, polarizador e branco. Apesar das diferenças, cada um vive a sua crise e prepara-se para visitar um país que a trata, a crise, por "tu". Os caminhos de Barack Obama, o político mais poderoso do mundo, e do Papa Bento XVI, o líder religioso mais influente do planeta, convergem em Portugal. Entre Maio e Novembro de 2010.

Bento XVI vem a Portugal participar nas celebrações do 13 de Maio, numa das mais longas visitas de um Papa a Portugal. Para além do impacto espiritual junto da comunidade católica, Bento XVI também dá uma ajuda à economia: o Turismo da Região de Leiria esfrega as mãos à espera de uma enchente e todos os hotéis esgotaram com seis meses de antecedência.

Em Washington, Barack Obama decidiu ignorar a cimeira União Europeia/Estados Unidos em Madrid (em Maio), para vir a Lisboa discutir o novo conceito estratégico da NATO. Esta será a sétima vez que um presidente dos Estados Unidos visita Portugal. E será uma estreia para Barack Obama. Apesar de ainda não ser conhecida a duração da estadia, implicará certamente um dispositivo de segurança nunca visto em Portugal.

A PSP já começou a organizar os preparativos, mas grande parte das responsabilidade de segurança ficarão a cargo dos serviços secretos dos norte-americanos. "O presidente dos EUA vem sempre com dezenas de seguranças e viaturas blindadas", explica Paulo Gorjão, director do Instituto Português de Relações Internacionais.

Poucas dúvidas há que estes dois eventos hipermediatizados - aos quais se junta o Campeonato do Mundo de futebol - irão condicionar a agenda política do país durante seis meses. Bento XVI e Barack Obama trarão a Portugal mensagens de esperança. Mas serão suficientes para fazer os portugueses encherem o peito e esquecerem as dificuldades económicas que enfrentam?

"Não espero um efeito de anestesia colectiva. Uma coisa é viver um crescimento desanimador, como nos últimos anos. Mas o país não está a olhar para o cardápio habitual. A realidade vai ser mais forte que estes focos de distracção", afirma o colunista João Pereira Coutinho. "Não há manobra que oculte os problemas imediatos que afectam as pessoas."

Com a taxa de desemprego a bater níveis históricos (10,1%), o PEC a pedir aos portugueses que apertem ainda mais o cinto e uma anunciada perda do poder de compra para os próximos tempos, a realidade portuguesa é demasiado pesada para ser afastada com sopros mediáticas. "Já em 2004, também na altura com Portugal em crise e com o Europeu de Futebol à porta, ouvimos o argumento que o país se ia mobilizar e ultrapassar as dificuldades. Isso não não aconteceu", explica Miguel Morgado. Na opinião do professor de Ciência Política da Universidade Católica, "os portugueses têm de perceber que o problema da sociedade não é a moral em baixo nem a falta de esperança. Aliás é por ter tido esperança a mais que o país está no estado em que está. Não precisamos de uma luz do além que é trazida pelo Papa, por Obama, nem pelo Campeonato do Mundo que nos faça ultrapassar os problemas", conclui Morgado.

Ainda assim, estas visitas permitem alimentar o ego nacional, reforçam o prestígio diplomático e, talvez por uns dias, Portugal deixe de ser falado pelas piores razões. "A visita não traz qualquer benefício concreto para a vida das pessoas, mas é motivo de algum prestígio e mostra confiança diplomática em Portugal", sustenta Paulo Gorjão.

Também na política interna, os acontecimentos do ano mais relevantes para a diplomacia portuguesa podem ter consequências. Para Boaventura Sousa Santos, as visitas não vão melhorar a situação do país, mas serão tratadas politicamente para dar essa impressão. "São acontecimentos que vão trazer imenso espectáculo atrás de si e qualquer político gosta disso. Enquanto assim for há menos pressão sobre o governo."

Esperam-se alinhamentos interessantes. O sociólogo da Universidade de Coimbra explica porquê: "Temos um Papa conservador que vai ser recebido por um Presidente que não vai perder a oportunidade de se mostrar um conservador. Recebemos um presidente - Barack Obama - que aparece junto da população portuguesa com uma aura que há muito perdeu na América. Sócrates, com o país em crise, certamente terá interesse em aparecer junto a alguém deste calibre político."

É natural que quem estiver em contacto com Barack Obama tire algum proveito dessa atenção mediática.

Novembro será já um mês dominado pela pré-campanha das eleições presidenciais e o Presidente da República Cavaco Silva poderá ser o principal beneficiado. "Não tenho a menor dúvida que terá um efeito positivo para Cavaco Silva nas eleições. Não será Alegre nem Nobre na fotografia", acrescenta João Pereira Coutinho. Para o comentador, a reeleição de Cavaco Silva poderá ser facilitada por um ano com uma agenda política muito preenchida: "2010 vai ser um longo passeio presidencial. Cavaco Silva vai passar por vários palcos de prestígio, como a visita do Papa e de Obama, e deverá terminar esse périplo com o anúncio de que se irá candidatar."

Em 2010, um país chamado Portugal estará no centro das atenções mundiais. Por causa de Obama e Bento XVI.
Fonte: ionline


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