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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Estrada cortada. Os segredos da Silk Road

O FBI encerrou o maior mercado negro online, deixando largos números de compradores a queixarem-se nas redes sociais, sem Bitcoins e sem a compra. Mas afinal, o que era a Silk Road?


Imagine o resultado do cruzamento entre uma loja online e um beco de um bairro mal frequentado. É a ideia mais parecida com a Silk Road, um mercado global de produtos que, normalmente, não podem ser comprados sem ser anonimamente, como drogas ilegais (como, aliás, se pode ver pela imagem acima).

O nome, "Rota da Seda", remete para uma famosa rede de comércio que ligava a Europa à Índia e ao Extremo Oriente, entre 2006 A.C. e 220 D.C, onde o produto mais comercializado era a seda vinda da China.

No entanto, as semelhanças com esta "Rota" terminam aqui. Operando na Deep Web, apenas acessível através de TOR e invisível a motores de buscas comuns como o Google, a Silk Road permitia transacções anónimas, através de Bitcoins. Os compradores apenas precisavam de um registo gratuito, enquanto que os vendedores compravam o registo de venda por leilão.

Em Fevereiro deste ano, dois anos depois do seu arranque, foi detido o primeiro utilizador da Silk Road, um dealer australiano que teria importado cocaína e MDMA, interceptadas no correio. Foi descoberto o seu rasto na Silk Road, o que levou a polícia australiana e a Força Administrativa de Narcóticos (DEA) a apontar as armas a este mercado. Alguns utilizadores foram detidos, embora o êxito da missão fosse questionável.


A investigação. Hoje, foi divulgado o encerramento da Road Silk e a detenção do seu administrador, identificado como Ross William Ulbricht e conhecido online pelo username de Dread Pirate Roberts (ou DPR) pelo FBI. Ulbricht é acusado de ter violado a lei anti-narcóticos dos Estados Unidos da América e "distribuir e possuir com o intuito de distribuir" substâncias, enumeradas no processo de 39 páginas.

Entre as drogas apreendidas estava pelo menos 1Kg de heroína, 5Kg de cocaína, 10g de LSD e meio quilograma de metanfetaminas ou compostos semelhantes. As Bitcoins envolvidas nas transacções foram igualmente apreendidas, num equivalente a 3,6 mil milhões de dólares - a segunda maior apreensão de dinheiro de sempre.

Além disso, Ulbricht é suspeito de ter contratado um hitman para assassinar um chantagista, que dava pelo username FriendlyChemist, que exigira 500 mil dólares para não divulgar identidades de compradores da Silk Road. O assassino contratado recebeu, alegadamente, 150 mil dólares em Bitcoins, mas a polícia não encontra provas que liguem DPR a um homicídio, portanto as acusações serão de tráfico, hacking e lavagem de dinheiro.

O agente do FBI, Christopher Tarbell, terá investigado a Silk Road há vários anos, inclusivamente comprando drogas online passando-se por clientes, e já tinham acesso assegurado aos servidores que hospedavam a Silk Road. Não foi divulgado em que país estava alojada.

Danos colaterais. A notícia ajudou a perceber até onde chegavam os seus braços. A cotação da Bitcoin caiu 20% após ter sido divulgado o fim da Silk Road e há quem veja aqui o golpe de morte dado à moeda virtual.


As opiniões, no entanto, dividem-se no Reddit. Alguns utilizadores, como jayman62, estão preocupados em como reaver o dinheiro: "Todo o nosso dinheiro desapareceu. Carreguei o meu 10 minutos antes de deitarem abaixo [a página] e estou realmente lixado. Nem todo o dinheiro era meu e agora devo muito dinheiro a pessoas muito perigosas. Sou um homem morto". Outros consideram o encerramento da Silk Road uma grande notícia. No subreddit de tecnologia, há mesmo quem veja aqui uma possível teoria da conspiração: "Isto não tem a ver com as drogas ilegais, tem a ver com as Bitcoins, que assustam o FBI e o sector financeiro porque não as controlam".

jayman62, contactado pelo site de entretenimento Buzzfeed, considera que a acção do FBI "não ajuda em nada" e que é a causa de toda a violência, já que "muita vai começar depois disto. Muitas mais pessoas vão procurar as drogas nas ruas". "muitas vão começar a ressacar e já não têm Bitcoins para ir a outro site", o que pode levar a que "roubem e assaltem" para conseguir dinheiro para a dose.

Estradas secundárias. O encerramento da Silk Road é, no entanto, uma gota no oceano, já que existem muitas mais alternativas à página que chegou à ribalta e que, por isso, foi a primeira a cair. O Business Insider apresentou três, num artigo que poderá ler aqui

O Black Market Reloaded, por exemplo, não só vende drogas ilegais como, ao contrário da Silk Road - supõe-se pelos termos de utilização, que impede a venda de material que possa prejudicar terceiros - vende armas. Ou vendia: após alguns tiroteios chegarem aos noticiários, foram retiradas das listas "públicas". Porém, continua a vender códigos de cartões de crédito e documentos falsificados.

O Atlantis, que surgiu este ano publicitado em vídeo, foi encerrado no mês passado pela própria administração, que alegou "razzões de segurança fora do nosso controlo". Era igualmente utilizado para venda de drogas, mas também de ataques DDoS ou esteróides. 

O mais recente e, até agora, o mais pequeno, é conhecido como Sheep Marketplace e começou a ganhar notoriedade quando alguns utilizadores da Silk Road a trocaram por esta página. À data de hoje, tinha 80 anúncios de venda de drogas, nove de serviços e 16 de dados.