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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Líbia: Contestação em Trípoli, relatos de “massacre” em Bengasi

Trípoli deixou de estar à margem dos protestos que, nos últimos dias, têm abalado o Leste da Líbia. As forças de segurança usaram domingo à noite balas reais e gás lacrimogéneo para dispersar protestos na capital, disseram testemunhas citadas pela BBC. A repressão dos últimos dias provocou já, segundo as estimativas conhecidas, bem mais de 200 mortes no país.


Na capital, milhares de manifestantes entraram em confronto com apoiantes do líder, Muammar Khadafi, na Praça Verde, no centro, noticiou a estação Al-Jazira. “Há manifestações. Ouvem-se slogans contra o regime e tiros”, disse à AFP uma testemunha residente num bairro popular.

"Estamos em Trípoli, e há cânticos, dirigidos a Khadafi: 'Onde estás? Onde estás? Aparece se és homem'", relatou à televisão Al-Jazira um manifestante, por telefone.

Ainda antes dos protestos nocturnos, dezenas de advogados participaram num protesto contra a repressão e foram identificados pela polícia. Ao longo do dia, segundo a AFP, numerosos residentes afluíram às lojas para comprarem alimentos.

A contestação ao regime, que tem decorrido longe da capital, começou no fim-de-semana a fazer-se sentir mais perto de Trípoli. Informações recolhidas pela AFP referem confrontos no sábado em Musratha, terceira cidade do país, 200 quilómetros a leste da capital. De Zaouia, 60 quilómetros a ocidente, chegaram também notícias de violência.

Muito graves são os relatos que ontem chegaram de Bengasi. Braikah, uma médica que falou à BBC, não tem dúvidas: na segunda cidade do país aconteceu “um verdadeiro massacre”. Mais de 200 pessoas foram mortas e cerca de 900 ficaram feridas nas brutais acções de repressão dos últimos dias, disse. Na morgue do hospital de Jala deram entrada 208 cadáveres e para outra unidade médica foram levados 12, afirmou a médica. “Noventa por cento dos ferimentos de bala [foram] principalmente na cabeça, no pescoço, no peito, também no coração.”

O Departamento de Estado dos EUA informou saber que há “centenas” de mortos e feridos na Líbia. Só na tarde de domingo foram mortas cerca de 50 pessoas em Bengasi, disse fonte hospitalar à Reuters.

O termo “massacre” para descrever o que se tem passado na cidade surgiu também noutros testemunhos. “Foram mortas dezenas de pessoas... estamos a meio de um massacre”, referiu uma testemunha contactada pela Reuters. O advogado Fethi Tarbel, cuja detenção temporária na terça-feira deu origem aos primeiros tumultos, referiu-se igualmente a Bengasi como teatro de “massacres”. “Lembra uma zona de guerra aberta entre os manifestantes e as forças de segurança”, referiu à televisão Al-Jazira.

A organização Human Rights Watch, que diariamente actualiza o número de mortos, corrigiu domingo à tarde o balanço matinal e calculou que tinham já morrido, pelo menos, 173 pessoas.

“É um número ainda incompleto, baseado em fontes hospitalares”, disse à AFP o director da organização em Londres, segundo o qual os ferimentos descritos por fontes médicas são característicos de “armas pesadas”. “Temos fortes inquietações [...] de que esteja em curso uma catástrofe em matéria de direitos do Homem”, acrescentou Tom Porteous.

Os piores actos de violência terão ocorrido precisamente em Bengasi, cidade de tradição oposicionista, a mil quilómetros de Trípoli, durante o fim-de-semana, quando armas pesadas teriam sido usadas contra a multidão que acompanhava funerais de vítimas de confrontos anteriores.

Num diálogo mantido na noite de sábado pela BBC com outro médico de Bengasi, eram audíveis tiros que, segundo esta fonte, estavam a ser disparados para o ar, em direcção a edifícios, mas também “contra civis”.

O líder da tribo Al-Zuwayya, do Leste da Líbia, que vive a sul da cidade de Bengasi, ameaçou entretanto cortar as exportações de petróleo no prazo de 24 horas se não parar a "opressão dos manifestantes". Outra tribo, a Warfala, ter-se-á juntado já aos protestos.

Meanwhile the head of the Al-Zuwayya tribe in eastern Libya has threatened to cut off oil exports unless authorities stop what he called the "oppression of protesters", the Warfala tribe, one of Libya's biggest, has reportedly joined the anti-Gaddafi protests.

As informações sobre a situação na Líbia são escassas devido às restrições das autoridades. Desde o início dos levantamentos não entraram no país jornalistas estrangeiros, a deslocação dos que lá se encontram tem sido dificultada e as comunicações telefónicas sofrem perturbações frequentes.Sabe-se, no entanto, que Beyida, também no Leste, tem sido outro dos cenários da violência. Relatos de sábado indicavam que 23 pessoas tinham até então sido mortas na cidade, onde o centro estaria ocupado por manifestantes e as forças do regime controlavam entradas e saídas.

Deserções
Um alto responsável líbio afirmou à AFP, sob anonimato, que um “grupo de extremistas islamistas”, auto-intitulado Emirado Islâmico de Barka [antigo nome da região nordeste da Líbia] mantinha sequestrados na cidade membros das forças de segurança e cidadãos. O grupo, disse, “quer o levantamento do cerco imposto para não executar os reféns”.

O Emirado, cujo núcleo duro seria composto por islamistas libertados nos últimos meses na Líbia, terá assaltado na quarta-feira um arsenal do Exército em Derna, a leste de Beyida, disse a mesma fonte, segundo a qual um coronel, Adnana al-Nouisri, se juntou ao grupo. O representante da Líbia na Liga Árabe, Abdel Moneim al-Honi, anunciou também ontem a demissão para se juntar “à revolução”.

A Liga Árabe e diferentes governos apelaram ao fim da violência e a Líbia ameaçou suspender a cooperação sobre migração ilegal com a União Europeia, se os países comunitários continuarem a encorajar os protestos pró-democracia.

Fonte: Público


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