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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Opinião: 33 anos atrás do muro, e contando

O álbum “The Wall”, dos britânicos Pink Floyd, faz hoje 33 anos.


Aquele que é um dos discos mais marcantes da História do rock mistura-se com o próprio percurso do então vocalista Roger Waters – um álbum conceptual sobre uma personagem retorcida, Pink, onde se revê o próprio Waters e a sua relação com o resto da banda e, sobretudo com o antigo vocalista e fundador Syd Barrett. E embora tenha sido lançado em 1979, continua com uma actualidade que espanta.

Anos depois, em 1982, o álbum era transformado em filme, com Bob Geldof no papel do protagonista e com animações de Gerald Scarfe a transformarem em estímulos visuais os fantasmas de Pink. A morte do pai na guerra, a austeridade do sádico professor (que, em última análise, levou à escrita da música mais famosa da banda), a sobreprotecção da mãe que já tinha visto o marido desaparecer e, então, mantém Pink debaixo da sua asa, o medo de uma relação amorosa, o terror de se oferecer a um público que pede mais e mais à sua banda: Todos esses foram tijolos no muro que acabou por separar Pink – ou Waters? – do mundo exterior. Pink tornou-se um ditador e Waters, um perfeccionista que continua a oferecer-nos tours megalómanas, álbuns que roçam a perfeição e uma personalidade arrogante.

Uma das mensagens marcantes no álbum e, posteriormente, no filme (e mais posteriormente ainda, na tour actual de The Wall, com Waters a solo – tour que passou em Lisboa em Março do ano passado, e que me gabo de ter presenciado) é a do anti-capitalismo. É a mensagem de que a guerra, o materialismo e o egoísmo daqueles que regem o mundo acabam por não nos oferecer mais que tijolos para um muro, cada vez mais alto. E é um álbum para continuar a ser ouvido pelas gerações que não se conformam em ter tijolos à frente: a minha, que já o tinha ouvido pela mão dos pais, deverá ser a geração que dá a conhecer esta obra-prima aos filhos, para que não se deixem aprisionar pelos muros que a vida nos obriga a criar.

Sobre o álbum, per se, em termos auditivos, há uma coisa a ter em conta: Não se esgota nem deve ser conhecido pelo disco que deu a conhecer ao mundo “Another Brick in the Wall pt. 2” e a reconhecível linha de baixo. Este é um álbum para carregar no play (ou, melhor ainda!, baixar a agulha sobre o vinil), encostar para trás e apreciar, faixa após faixa, desde “In the Flesh?” até “Outside the Wall”.


Texto: Sara Pereira
Jornalista Freelancer