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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Jogos online. A vida são dois dias - e a XL Party são três

Mais de 1500 jogadores vieram a Lisboa competir no maior evento nacional


Ao lado de computadores que parecem saídos da Guerra das Estrelas há sacos- -cama, cobertores e mochilas cheias de comida enlatada: é que as centenas de jogadores que vieram de todo o país para a XL Party sabiam que tinham de passar duas noites no chão do pavilhão 4 da FIL - Feira Internacional de Lisboa. Em cima das mesas onde predominam portáteis e computadores modificados, também há pacotes de bolachas abertos e de batatas fritas vazios; fuma-se descansadamente e ninguém parece deslocado. É uma verdadeira festa para aficionados: durante três dias, 1500 jogadores nacionais e internacionais não viram mais nada à frente a não ser jogos.

A terceira edição 2010 do maior evento português de videojogos e novas tecnologias terminou ontem no Parque das Nações com as finais dos torneios e a atribuição de prémios. Não havia grandes somas de dinheiro em competição. Como quase sempre nos torneios nacionais os prémios mais aliciantes foram computadores e material informático, que muitas vezes os vencedores vendem para transformar a dedicação em euros a sério. Desta vez, a patrocinadora oficial Asus vai entregar mais de 15 mil euros em prémios nos três torneios principais.

"Jogamos pela competição", diz Bruno Ferreira, um empresário da construção civil que veio de Ermesinde para competir no torneio de Counter Strike: Source. "Há uma recompensa psicológica, principalmente se é um jogo individual, em que, se tu falhas, a culpa é 100% tua - e se vences também", acrescenta.

Bruno não encaixa no estereótipo dos cromos de computador a que a sociedade se habituou a associar os aficionados de videojogos. Primeiro, porque nem sequer gosta de jogos de computador e também não liga muito a consolas; depois, porque concilia as várias horas diárias que dedica a treinar o jogo com hobbies fora de casa, tais como futebol de onze. "Sempre pratiquei desporto", sublinha, referindo que aquela ideia de que os jogadores ficam o dia todo agarrados ao computador e não têm vida fora de casa não corresponde (inteiramente) à verdade.

"Conheço pessoas que têm esse estilo de vida", admite, "mas se não fosse pelos jogos online era por outra coisa. São pessoas acomodadas", afirma o empresário de 25 anos, que joga "desde o secundário" e diz que "já está velho".

Na verdade, todos têm aspecto de adolescentes nesta megafesta, que recebeu qualquer coisa como 30 mil visitantes (a entrada era gratuita). Uma das novidades da XL Party, pelo menos em relação àquilo que nos habituámos a ver nos eventos do género, foi o mix de torneios dos jogos mais populares entre os gamers e as extra-actividades que trouxeram para a vida real aquilo que se faz entre o teclado e o monitor.

Por exemplo, havia um espaço para jogar paintball, com armas a laser em vez de tinta; a qualquer altura era possível ver grupos de adolescentes a dançar breakdance ou outro tipo de dança de rua; e ainda deu para um pouco de parkour - a arte do deslocamento que tem crescido muito nas cidades. Todas estas actividades foram inseridas naquilo a que a organização da XL Party chamou "Urban Culture". Porque os jogos online são hoje qualquer coisa de radicalmente diferente, e estão demasiado inseridos na cultura da nova geração para serem considerados um segmento de nicho.


"No gaming temos de estar, à vontade, um ano só a evoluir no jogo", conta André Oliveira, de 24 anos, que veio de Matosinhos para competir em Trackmania Nations. O jogador conhecido por "Chaos" garante que a família já entende melhor a sua paixão, mas que no início era complicado. "Se tivermos uma competição, treinamos quatro horas por dia. Mas há quem faça oito", adianta o jovem produtor multimédia freelancer, que tem encontrado no mundo dos jogos "imensas oportunidades" de trabalho. Apesar de se encontrar com os membros da sua equipa várias vezes por mês, André confessa que quase tudo se passa online. "Às vezes estamos ligados até às seis da manhã, a jogar, a treinar ou só a ver um filme, mas com os microfones ligados. Como se estivéssemos juntos", explica.

"Não dá para ser gamer profissional em Portugal", porque as empresas não apostam nos jogadores, diz André, que traz sempre alguma coisa dos torneios. Em casa, para não ser incomodado, usa um letreiro na porta a dizer: "I''m gaming".

Fonte: ionline


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