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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tamera. Um sustentável mundo novo a ser criado no Baixo Alentejo

A primeira eco-aldeia portuguesa recebeu a conferência anual da GEN. 35 países mostram que a crise mundial pode ser resolvida localmente


No concelho de Odemira há uma comunidade que mostra que as soluções para a actual situação global em termos ambientais e energéticos não são uma utopia. Tamera foi criada em 1995 pela teóloga e activista Sabine Lichtenfels e pelo sociólogo Dieter Duhm num terreno de 134 hectares. A eco-aldeia funciona como comunidade onde o impacto humano na natureza é quase nulo e como centro de pesquisa e desenvolvimento tecnológico ao serviço da sustentabilidade. Este ano, durante cinco dias, recebeu as conferências anuais da Rede Global de Eco-Aldeias (GEN, do inglês Global Ecovillage Network), dedicadas ao tema "Eco-Aldeias e Vida Sustentável".

A GEN foi fundada no mesmo ano de Tamera para apoiar projectos de criação experimental e de modos de vida com baixo impacto ambiental a nível mundial. No hemisfério norte centra-se na formação de comunidades capazes de recuperar terrenos danificados pela acção humana e em promover um estilo de vida ecológico. Já nos países do Sul, as necessidades específicas levam a que a atenção se volte para a sustentabilidade das comunidades em termos de alimentação e de resposta a problemas locais.

Como no caso da República Democrática do Congo, onde a comunidade Mama Na Bana trabalha com crianças órfãs e mulheres violadas, num país onde a violação é ainda uma arma de guerra. A GEN Africa - onde a organização de uma rede autónoma dura há três anos - é "uma borboleta a sair do casulo", diz Adama Ly, assistente do Ministério do Ambiente do Senegal. Por todo o Senegal há aldeias tradicionais a ser transformadas em eco-aldeias. "Mas ainda não sabemos como as eco-aldeias poderão acabar com a delapidação dos recursos naturais africanos", lamenta Lua Bashala Kekana, representante da referida comunidade congolesa.

À chegada a Tamera, a diferença entre panoramas é arrepiante: em contraste com a aridez dos sobreiros a morrer de sede, um oásis de verde concentra-se em redor de um enorme lago. É fácil perceber o porquê do nome da eco-aldeia, escolhido por Lichtenfels. Tamera significa, numa língua ancestral, "junto à fonte primordial". Quase toda a vegetação em redor foi reintroduzida num solo destruído pela insistência nas monoculturas e pela falta de água, através do método de permacultura de Sepp Holzer. Segundo este processo, foram plantadas perto de 20 mil árvores, de modo a criar harmonia e salvaguardar as simbioses entre as várias espécies de plantas e os animais.

O auditório, ou Aula, onde se realiza grande parte das conferências e workshops, é a maior construção em fardos de palha da Península Ibérica, uma técnica estudada em Tamera e exportada para outras eco-aldeias por todo o mundo. As paredes foram erguidas com 1500 fardos e rebocadas com uma camada de argila com cinco centímetros de espessura. Os materiais utilizados permitem manter a temperatura no interior da Aula agradável quer de Inverno quer de Verão. O telhado, coberto de relva, ajuda à manutenção de uma temperatura amena no auditório.

Seja, como disse o vice-presidente da Câmara Municipal de Odemira, Hélder Guerreiro, "por causa do sol", seja porque o concelho tem a frequentar as suas escolas crianças de 20 nacionalidades diferentes - um cosmopolitismo que se sentia também nas conferências, com participantes de 35 países -, a verdade é que Tamera já é parte essencial da zona. Segundo Leila Dregger, coordenadora de comunicação do projecto, foi mesmo por causa do sol que Duhm e Lichtenfels escolheram a Herdade do Monte do Cerro para fundar a primeira eco-aldeia portuguesa.

Aldeia Solar O Campo Experimental, inaugurado em 2009, está a desenvolver o projecto Aldeia Solar. Num espaço imaginado pelo físico Jürgen Kleinwächter, estudam-se formas de utilizar a luz do Sol para criar uma energia limpa e renovável. O equipamento que se vê na Aldeia Solar, com espelhos, estufa e sistemas parabólicos de captação de energia solar, faz com que o local pareça de outro planeta.

Na estufa, um sistema de lentes aquece directamente tubos onde circula óleo de girassol em sistema fechado. O óleo, aquecido a 200 graus, flui para caldeiras de parede dupla, com água que entra em ebulição. O vapor pode ser utilizado para cozinhar alimentos - o coordenador técnico, Paul Gisler, afirma que menos de cinco minutos bastam para cozer um bom prato de legumes ou para esterilizar os instrumentos médicos do centro de saúde da eco-aldeia. O óleo quente serve ainda para fazer funcionar um motor, o Sunpulse Electric, que assegura a electricidade no Campo Experimental. Como tem capacidade para armazenar óleo quente, o motor pode fornecer energia eléctrica, de refrigeração ou mecânica, mesmo durante a noite. E contribui igualmente para o característico odor a batata frita que se sente em toda a aldeia.

Um espelho de foco fixo quase encostado à cozinha da Aldeia Solar concentra de tal modo os raios solares num só ponto que podem ser utilizados para ferver água directamente, assar alimentos ou contribuir para o aquecimento do óleo. O técnico exemplifica a potência dos raios solares amplificados pondo um pau no forno. O pedaço de madeira entra imediatamente em combustão, como um fósforo. Barbara Kovats, coordenadora da equipa, afirma que a tecnologia utilizada na Aldeia Solar visa "construir uma rede energética no Alentejo para permitir a autonomia das pessoas através da energia solar". Além disso, diz, é a altura certa para levar este tipo de projectos avante. Por agora, a Aldeia Solar é financiada por empréstimos e Kovats lança o apelo: a equipa de investigação está "à procura de mecenas para financiar o novo sistema de biogás e a nova oficina".

por Sara Pereira, Publicado em 13 de Julho de 2011  

Fonte: ionline


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