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domingo, 23 de outubro de 2011

Balanço da Semana, por Sara Pereira

Começa esta semana uma iniciativa que se vai repetir aos domingos. Uma jornalista convidada do blogue vai dar a sua opinião acerca de três das notícias da semana e deixar sugestões de leitura, cinema, música e website.

Captura e morte de Kadhafi. Na quinta-feira, e após mais de meio ano de confrontos entre fiéis e rebeldes nas principais cidades da Líbia, o líder deposto Muammar Kadhafi foi encontrado pelos guerrilheiros. Cairam por terra, numa única manhã, todos os esforços que o coronel levou a cabo para prender as pontas soltas deixadas pelos desertores do governo. Apesar do mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional, os seus inimigos não hesitaram em fazer justiça pelas próprias mãos. As imagens que correram a comunicação social eram chocantes: Os homens que, durante 42 anos, foram oprimidos pelo despotismo deste excêntrico governador, foram os mesmos que espancaram Kadhafi e, nas ruas de Sirte – triste coincidência ou não, a cidade natal de Kadhafi e o seu último bastião – o executaram sumariamente com um tiro na têmpora esquerda. Os mesmos que, dias depois, aprovavam a Sharia, a lei mais rígida do Islão, na Líbia. Os líderes mundiais apressaram-se a mostrar regozijo pelo óbvio “fim da Era de Kadhafi”, como o presidente norte-americano Barack Obama fez questão de frisar. Os mesmos que, anteriormente e pelo cheiro do petróleo, se mostraram seus aliados. O que, porém, não os impediu de levar a cabo uma missão bélica contra o regime líbio – embora iguais circunstâncias se tenham repetido na Síria e o Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha vetado uma resolução para iguais medidas contra o sírio Bashar al-Assad. Amigos da onça, ou do crude, portanto.

Queda das vendas de música em Portugal. A Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) deu, na semana passada, conta da queda em 40% das vendas de música em Portugal. Na última década, coincidente com o florescer dos websites de downloads e da facilidade em gravar música de um álbum para um CD virgem, as vendas perderam 70%. Quem perde não são apenas os músicos, mas principalmente as editoras, que guardam uma grande fatia das parcas vendas que ainda fazem. A solução, ao contrário do que defende a AFP, não passa por um controlo restrito ao download ilegal, mas sim ao virar as costas às editoras e ao voltar ao “do it yourself”. Não são apenas as pequenas bandas de garagem que já optam por este meio, e gigantes da música – como os Radiohead e os Nine Inch Nails – começaram já a disponibilizar álbuns na internet ao preço proposto pelo comprador. Talvez a solução passe por baixar os preços aos discos, cortando o quinhão às editoras, que pouco mais fazem que distribuir e publicitar a banda.

Casa dos segredos ou fábrica de piadas? Desde o Big Brother, em 2000, que os reality shows se esforçam por ser um espelho da realidade do nosso país. Mas custa-me a crer que os concorrentes da Casa dos segredos, na TVI, sejam uma amostra fiel dos portugueses. Custa-me a crer e tenho receio que o sejam, de facto. Não apenas fisicamente – quantos turistas que passaram no nosso país e, durante um zapping na televisão do hotel, se depararam com aqueles concorrentes e saíram a pensar que grande parte dos portugueses são musculados que nem porteiros de discoteca ou que as portuguesas tenham peitos maiores que a própria cabeça? Não. Falo mesmo em termos de inteligência. Desde um concorrente que se nega a ir trabalhar para Inglaterra, mas que gostava de o fazer em Londres, a uma outra que afirma a pés juntos que a Índia se situa na Oceânia. Por favor, jurem-me que os escolheram a dedo e que lhes analisaram os últimos testes de Q.I. e de cultura geral em nome do espectáculo!

Quanto às sugestões desta semana, deixo o livro "O Homem que Gostava de Cães", de Leonardo Padura (Porto Editora, 2011). Uma história por trás do assassinato de Trotski, o evento que originou, mais tarde, a queda da URSS, contada pelo ponto de vista de um escritor cubano.

Não posso passar sem indicar um filme que é um clássico. Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994) é daqueles filmes que não podem faltar numa boa colecção de cinema. Acção, bastante humor e um final inesperado, com um rol de estrelas de invejar.

Quanto à música, o último de Arcade Fire, embora tenha saído em Agosto do ano passado, é um disco que vale a pena ouvir uma e outra vez, por crescer a cada audição. “The Suburbs” pode não ser tão forte como a estreia com “The Funeral”, mas toca no fundo de cada um.

Pela rede, o destaque vai para www.revista21.net, uma webzine mensal, focada na parte mais alternativa dos interesses. A navegação é fácil e estão disponíveis os dois números da revista para ler online.
Sara Pereira (jornalista)
sara.belem@hotmail.com





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