Valeu a pena a espera. Às 22h00, projectada num pano quadriculado, a contagem decrescente foi ampliando o frenesim vivido ontem à noite no Pavilhão Atlântico. Depressa a imagem projectada – e depois a sombra da diva em contraluz – foi acompanhada pela voz, que se atirou a ‘Dance in the Dark’, estreia de Lady Gaga em Portugal.
À subida do pano, a cantora desceu umas escadas para desfilar em frente ao Rolls Royce verde, no palco, vestida de jaqueta de grandes enchumaços brilhantes, que não demorou a retirar, revelando um body em padrão de leopardo que pontificava acima das pernas desnudadas, ‘calçadas' com botas altas de finos saltos de agulha.
Lady Gaga prosseguiu com ‘Glitter and Grease', entre bailarinos que limpavam os faróis do Rolls Royce. "Vamos divertir-nos esta noite?", perguntou a norte-americana, saindo disparada para a passerelle, pelo meio do público, que reagiu eufórico a ‘Just Dance'.
‘Beautiful, Dirty, Rich', do primeiro álbum, ‘The Fame', lançou a diva a um cubo de traves, ao qual trepou com destreza, deslizando de volta ao palco para partilhar convicções. "The Monster Ball [título da digressão] vai libertar-vos, Portugal", gritou, erguendo o pulso, no qual tinha tatuado o símbolo da paz.
"Portugal, monstrinhos, sigam o brilho", pediu à plateia de 18 500 pessoas, maioritariamente na idade do liceu e da faculdade. Todos viram como trocou de roupa em palco, despindo a gabardina preta para revelar o biquíni antes de se aquecer com uma bandeira de Portugal. Seguiu-se a balada ‘Speechless', que sentou Gaga num piano... em chamas.
Ao longo das duas horas de espectáculo, Lady Gaga conciliou a voz sempre afinada - quer cantando de pé, deitada ou torcida - com uma noção de espectáculo que a levou a referir-se aos "portuguese guys" e sem esquecer a defesa das suas causas: "O Michael [um dos bailarinos] gosta de raparigas portuguesas. E de rapazes. É como Jesus, gosta de toda a gente."
No final ficou o sabor a um dos espectáculos mais acesos do ano, com a norte-americana a provar que afinal é mais do que um produto da indústria musical. Lady Gaga tem sempre a total consciência do público ao qual se dirige - e nunca se esqueceu de direccionar, num português algo 'espanholado' aos "pequenos monstrinhos" -, mantendo-se enérgica e poderosa até ao som das 12 badaladas.
Já visivelmente cansada, mas sem perder a pose, e com um polvo gigante de olhos luminos a enredá-la, a diva Pop despediu-se do Atlântico, ao rubro, com um 'Bad Romance' cantado em coro estridente.
Saldo: entre 'mil' fatos diferentes e adereços com mais ou menos franjas, mais ou menos sangue, Lady Gaga impressionou e vai deixar memória nos espectáculos de 2010.
Goste-se ou não, a jovem artista provou e comprovou que é uma 'entertainer' nata e inata.
"No liceu não era nada 'cool'. Agora dá-me algum prazer que todos os que gozavam com comigo me venham ver a dançar e cantar. Aceitem-se sempre como são!", deixou ainda como conselho a quem assistia.
Na primeira parte, actuaram os Semi Precious Weapons, cujo andrógino vocalista, Justin Tranter, aqueceu a plateia.
GAYS TÊM ENORME DEVOÇÃO PELA DIVA
Tal como Madonna, Lady Gaga tem uma legião de fãs homossexuais. Em Barcelona, onde actuou segunda-feira, um dos espectadores atirou para o palco uma bandeira do arco-íris - ícone gay mundial - para o palco e a artista logo nela se embrulhou. Não é de estranhar: Gaga defende com unhas e dentes a abolição da lei norte-americana ‘Don't Ask, Don't Tell' (à letra, ‘não pergunte, não diga'), de 1993, que obriga os militares homossexuais a esconderem a orientação sexual para permanecerem nas Forças Armadas dos EUA. Caso o revelem, e se assumam, são expulsos.
PAIS À ESPERA, PERUCAS LOURAS E 'ALEJANDROS'
Numa competição frenética pelo ‘look' mais fiel a Lady Gaga, havia uma multidão vestida a rigor para receber a polémica cantora norte-americana. Se as raparigas optavam pela peruca loira e pelos brilhantes, os rapazes encarnavam ‘Paparazzi' e ‘Alejandro' a rigor. Roupas justas, lábios pintados de preto e orelhas de Mickey, alguns frisavam a importância da cantora pela igualdade de géneros.
Ao tom de ‘Bad Romance', os jovens animados elogiavam-se mutuamente pela originalidade e pela semelhança com a ídolo pop.
O entusiasmo era tanto às 18h30 (hora a que portas abriram) que Maria Baptista estava com os pés nus na pedra para o derradeiro ‘sprint'. A jovem, com lábios pintados e brilhantes na cara, agarrava as botas na mão para a entrada triunfal: "É muito mais fácil correr sem meias porque não escorrego. Não quero correr o risco de cair porque já cá estou há muito tempo para agora ficar mal", contou a jovem de 14 anos, que chegou à fila do concerto na quinta-feira pelas 17h00.
Os ‘Alejandros' estavam espalhados pelo recinto. João Pedro sublinha a ideia que a cantora norte-americana tenta transmitir: "Vim pela igualdade entre as pessoas, entre os sexos, por tudo o que ela representa. Estamos cá por ela. Vai ser um encontro que nenhum de nós vai esquecer."
Sandro Gomes, de 21 anos, com óculos escuros, lábios pintados e de bandeira arco-íris ao pescoço, decidiu encarnar a personagem paparazzi: "Baseei-me no videoclip. Já fui o Alejandro no Halloween. É a minha cantora preferida, a seguir à Madonna." Com a mesma ideia em mente, Iris Gomes colocou pedaços de renda e linhas pretas e cor-de-rosa no cabelo: "Hoje exagerei um bocadinho no cabelo", explicando que foi por ser uma ocasião especial
"APAIXONADO MUSICALMENTE"
Se muitos pais ficaram no exterior do recinto à espera do final do concerto, Graça Moniz, de 43 anos, decidiu acompanhar a sobrinha e os amigos fã de Gaga, "juntando o útil ao agradável".
Do alto dos seus 15 anos, Luis Correia explica o porquê de Gaga ser um sucesso: "Vim pela arte do espectáculo. Gaga encarna uma personagem durante 24 horas. Já faz parte de si própria." Explicou o jovem, "apaixonado musicalmente", que encomendou o bilhete antes deste sair para o mercado através da internet, por a cantora ser uma "artista tão especial" e "dar vida ao espectáculo".
Apesar dos milhares de pessoas que aguardavam, por volta das 19h20 só permanecia cá fora os seguranças e o lixo no chão deixado pelos fãs.
DEPOIMENTOS
"Chegámos ontem pelas 23h00. Fomos directamente para o hotel para dormir para hoje termos energia. Só tivemos um concerto em Espanha, em Barcelona. Quisemos vir a Portugal para ver Gaga de novo e conhecer a bela cidade. Estamo-nos a divertir muito. Assistir noutro país é muito melhor, pois conhecemos outras culturas" - Andrés Padro, 22 anos, Espanha
"Cheguei às três da manhã. Queria ficar na primeira fila e tinha medo que estivesse muita gente. Quando cheguei ainda estavam poucos" - Raquel Bernardo, 19 anos, Algarve
"Já me visto assim mais ou menos extravagante mas hoje exagerei um bocadinho. Exagerei no cabelo. Já tinha coisas no cabelo para vários eventos e aproveitei também para hoje. Gosto muito das músicas e da Lady Gaga. Estou à espera de um grande show, ela tem uma grande voz. Os meus amigos ofereceram-me os bilhetes na semana passada". - Iris Gomes 18 anos, Seixal
À subida do pano, a cantora desceu umas escadas para desfilar em frente ao Rolls Royce verde, no palco, vestida de jaqueta de grandes enchumaços brilhantes, que não demorou a retirar, revelando um body em padrão de leopardo que pontificava acima das pernas desnudadas, ‘calçadas' com botas altas de finos saltos de agulha.
Lady Gaga prosseguiu com ‘Glitter and Grease', entre bailarinos que limpavam os faróis do Rolls Royce. "Vamos divertir-nos esta noite?", perguntou a norte-americana, saindo disparada para a passerelle, pelo meio do público, que reagiu eufórico a ‘Just Dance'.
‘Beautiful, Dirty, Rich', do primeiro álbum, ‘The Fame', lançou a diva a um cubo de traves, ao qual trepou com destreza, deslizando de volta ao palco para partilhar convicções. "The Monster Ball [título da digressão] vai libertar-vos, Portugal", gritou, erguendo o pulso, no qual tinha tatuado o símbolo da paz.
"Portugal, monstrinhos, sigam o brilho", pediu à plateia de 18 500 pessoas, maioritariamente na idade do liceu e da faculdade. Todos viram como trocou de roupa em palco, despindo a gabardina preta para revelar o biquíni antes de se aquecer com uma bandeira de Portugal. Seguiu-se a balada ‘Speechless', que sentou Gaga num piano... em chamas.
Ao longo das duas horas de espectáculo, Lady Gaga conciliou a voz sempre afinada - quer cantando de pé, deitada ou torcida - com uma noção de espectáculo que a levou a referir-se aos "portuguese guys" e sem esquecer a defesa das suas causas: "O Michael [um dos bailarinos] gosta de raparigas portuguesas. E de rapazes. É como Jesus, gosta de toda a gente."
No final ficou o sabor a um dos espectáculos mais acesos do ano, com a norte-americana a provar que afinal é mais do que um produto da indústria musical. Lady Gaga tem sempre a total consciência do público ao qual se dirige - e nunca se esqueceu de direccionar, num português algo 'espanholado' aos "pequenos monstrinhos" -, mantendo-se enérgica e poderosa até ao som das 12 badaladas.
Já visivelmente cansada, mas sem perder a pose, e com um polvo gigante de olhos luminos a enredá-la, a diva Pop despediu-se do Atlântico, ao rubro, com um 'Bad Romance' cantado em coro estridente.
Saldo: entre 'mil' fatos diferentes e adereços com mais ou menos franjas, mais ou menos sangue, Lady Gaga impressionou e vai deixar memória nos espectáculos de 2010.
Goste-se ou não, a jovem artista provou e comprovou que é uma 'entertainer' nata e inata.
"No liceu não era nada 'cool'. Agora dá-me algum prazer que todos os que gozavam com comigo me venham ver a dançar e cantar. Aceitem-se sempre como são!", deixou ainda como conselho a quem assistia.
Na primeira parte, actuaram os Semi Precious Weapons, cujo andrógino vocalista, Justin Tranter, aqueceu a plateia.
GAYS TÊM ENORME DEVOÇÃO PELA DIVA
Tal como Madonna, Lady Gaga tem uma legião de fãs homossexuais. Em Barcelona, onde actuou segunda-feira, um dos espectadores atirou para o palco uma bandeira do arco-íris - ícone gay mundial - para o palco e a artista logo nela se embrulhou. Não é de estranhar: Gaga defende com unhas e dentes a abolição da lei norte-americana ‘Don't Ask, Don't Tell' (à letra, ‘não pergunte, não diga'), de 1993, que obriga os militares homossexuais a esconderem a orientação sexual para permanecerem nas Forças Armadas dos EUA. Caso o revelem, e se assumam, são expulsos.
PAIS À ESPERA, PERUCAS LOURAS E 'ALEJANDROS'
Numa competição frenética pelo ‘look' mais fiel a Lady Gaga, havia uma multidão vestida a rigor para receber a polémica cantora norte-americana. Se as raparigas optavam pela peruca loira e pelos brilhantes, os rapazes encarnavam ‘Paparazzi' e ‘Alejandro' a rigor. Roupas justas, lábios pintados de preto e orelhas de Mickey, alguns frisavam a importância da cantora pela igualdade de géneros.
Ao tom de ‘Bad Romance', os jovens animados elogiavam-se mutuamente pela originalidade e pela semelhança com a ídolo pop.
O entusiasmo era tanto às 18h30 (hora a que portas abriram) que Maria Baptista estava com os pés nus na pedra para o derradeiro ‘sprint'. A jovem, com lábios pintados e brilhantes na cara, agarrava as botas na mão para a entrada triunfal: "É muito mais fácil correr sem meias porque não escorrego. Não quero correr o risco de cair porque já cá estou há muito tempo para agora ficar mal", contou a jovem de 14 anos, que chegou à fila do concerto na quinta-feira pelas 17h00.
Os ‘Alejandros' estavam espalhados pelo recinto. João Pedro sublinha a ideia que a cantora norte-americana tenta transmitir: "Vim pela igualdade entre as pessoas, entre os sexos, por tudo o que ela representa. Estamos cá por ela. Vai ser um encontro que nenhum de nós vai esquecer."
Sandro Gomes, de 21 anos, com óculos escuros, lábios pintados e de bandeira arco-íris ao pescoço, decidiu encarnar a personagem paparazzi: "Baseei-me no videoclip. Já fui o Alejandro no Halloween. É a minha cantora preferida, a seguir à Madonna." Com a mesma ideia em mente, Iris Gomes colocou pedaços de renda e linhas pretas e cor-de-rosa no cabelo: "Hoje exagerei um bocadinho no cabelo", explicando que foi por ser uma ocasião especial
"APAIXONADO MUSICALMENTE"
Se muitos pais ficaram no exterior do recinto à espera do final do concerto, Graça Moniz, de 43 anos, decidiu acompanhar a sobrinha e os amigos fã de Gaga, "juntando o útil ao agradável".
Do alto dos seus 15 anos, Luis Correia explica o porquê de Gaga ser um sucesso: "Vim pela arte do espectáculo. Gaga encarna uma personagem durante 24 horas. Já faz parte de si própria." Explicou o jovem, "apaixonado musicalmente", que encomendou o bilhete antes deste sair para o mercado através da internet, por a cantora ser uma "artista tão especial" e "dar vida ao espectáculo".
Apesar dos milhares de pessoas que aguardavam, por volta das 19h20 só permanecia cá fora os seguranças e o lixo no chão deixado pelos fãs.
DEPOIMENTOS
"Chegámos ontem pelas 23h00. Fomos directamente para o hotel para dormir para hoje termos energia. Só tivemos um concerto em Espanha, em Barcelona. Quisemos vir a Portugal para ver Gaga de novo e conhecer a bela cidade. Estamo-nos a divertir muito. Assistir noutro país é muito melhor, pois conhecemos outras culturas" - Andrés Padro, 22 anos, Espanha
"Cheguei às três da manhã. Queria ficar na primeira fila e tinha medo que estivesse muita gente. Quando cheguei ainda estavam poucos" - Raquel Bernardo, 19 anos, Algarve
"Já me visto assim mais ou menos extravagante mas hoje exagerei um bocadinho. Exagerei no cabelo. Já tinha coisas no cabelo para vários eventos e aproveitei também para hoje. Gosto muito das músicas e da Lady Gaga. Estou à espera de um grande show, ela tem uma grande voz. Os meus amigos ofereceram-me os bilhetes na semana passada". - Iris Gomes 18 anos, Seixal
Fonte: Correio da Manhã
Foto: Rita Carmo/Espanta Espíritos (Blitz)
Foto: Rita Carmo/Espanta Espíritos (Blitz)
Sem comentários :
Enviar um comentário