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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Sputnik - 4 Outubro 1957


A União Soviética lançou o primeiro satélite artificial, uma nova lua, no dia 4 de outubro de 1957. Escapando sem dificuldades à gravidade da Terra e subindo além da atmosfera até se posicionar em órbita, o Sputnik cruzou o limiar de uma nova dimensão da experiência humana. As pessoas a partir de então podiam ver a si mesmas como viajantes do espaço. Esse avanço na mobilidade do futuro poderia se provar tão libertador quanto os primeiros passos eretos de nossos ancestrais hominídeos, no passado mais distante.

No entanto, a reação imediata refletiu as sombrias preocupações de um mundo que vivia sob o domínio da Guerra Fria, uma era de medo na qual as duas superpotências, União Soviética e Estados Unidos, se confrontavam trocando ameaças de destruição em massa. O Sputnik alterou a natureza e o escopo da Guerra Fria.

Mas era uma causa modesta, para tamanho alarme. Uma simples esfera com peso de apenas 80 kg e diâmetro pouco inferior a 60 cm, com uma superfície altamente reflexiva de alumínio, para refletir melhor a luz solar e torná-la mais visível da Terra. Dois transmissores de rádio com antenas longas e flexíveis emitiam uma corrente contínua de sinais em frequências que podiam ser captadas por cientistas e operadores de rádio amador, de forma a confirmar a realização.

Os russos claramente pretendiam que o Sputnik servisse como uma declaração tonitroante de sua competência tecnológica - com todas as implicações militares que isso acarretava. Mas nem mesmo eles previram, ao que parece, a resposta frenética que seu sucesso provocaria.

"Nenhum acontecimento desde o ataque japonês a Pearl Harbor teve tamanha repercussão sobre a vida pública americana", escreveu Walter McDougall, historiador que leciona na Universidade da Pensilvânia. Uma geração posterior provavelmente compararia o acontecimento aos ataques terroristas do 11 de setembro.

O Sputnik lançou os Estados Unidos a uma crise de confiança. Será que a prosperidade havia tornado o país acomodado demais? O sistema de educação talvez fosse inadequado, especialmente no que tange ao treinamento de engenheiros e cientistas. Será que as instituições da democracia liberal seriam capazes de competir com uma sociedade comunista autoritária? Em The Heavens and the Earth: A Political History of the Space Age, livro sobre a corrida espacial que ele publicou em 1985, McDougall escreveu que, antes do Sputnik, a Guerra Fria era "uma disputa militar e política na qual os Estados Unidos precisavam apenas conceder apoio material e psicológico aos seus aliados posicionados na linha de frente".

Depois, ele prosseguia, a Guerra Fria "se tornou total, uma disputa pela lealdade e confiança de todos os povos, travada em todas as arenas de realizações sociais, para a qual os livros escolares e a harmonia racial se tornaram ferramentas tão importantes de política externa quanto os mísseis e os espiões".

No momento do Sputnik, John Kennedy era senador recém-eleito pelo Estado de Massachusetts, e não demonstrava interesse especial pelas questões espaciais. Yuri Gagarin era um piloto militar soviético ainda desconhecido, e John Glenn era um aviador do Corpo de Fuzileiros Navais que havia estabelecido há pouco tempo um recorde para o mais veloz vôo transcontinental a jato entre Los Angeles e Nova York. Neil Armstrong estava testando aviões de alto desempenho no deserto de Nevada. As vidas de todos eles não demorariam a mudar, e o mesmo se aplicaria a centenas de milhares de outros engenheiros, técnicos, operários e pessoas comuns, no mundo inteiro.

A dinâmica posterior ao Sputnik chegou a até a envolver um sujeito como eu. No momento do lançamento, eu servia como soldado da Guerra Fria. Mais ou menos como todos os jovens americanos aptos (até mesmo Elvis teve de servir por dois anos), eu cumpri o dever de suspender minhas atividades pessoais para o serviço militar obrigatório. Já havia terminado a faculdade, e conseguira meu primeiro emprego como repórter no Wall Street Journal, do qual fui licenciado durante meu período como soldado em Fort Dix, Nova Jersey.

Na manhã seguinte ao triunfo soviético, eu tive licença para uma visita de um dia à cidade de Trenton. Comprei os jornais do dia e os abri na mesa de um café. Imensas manchetes anunciavam o feito. A linguagem complicada dos foguetes e das órbitas me causava séria confusão, mas eu persisti na leitura. Refleti, de passagem, sobre a coincidência entre o lançamento do Sputnik e o meu aniversário - pelo menos eu jamais esqueceria o dia em que a era espacial começou.

Naquele momento, eu não imaginava que o Sputnik havia causado eventos que dariam forma à minha carreira. Mas, a partir de 1959, me tornei jornalista especializado em assuntos científicos, e terminei contratado pelo New York Times, onde fui designado para a cobertura da mais ambiciosa resposta americana ao Sputnik: o programa lunar Apollo, da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) americana.

A corrida espacial foi muito curta: 12 breves anos entre o alarme causado pelo primeiro satélite e o pouco da Apollo 11 na Lua. Mas ela foi emocionante, deslumbrante e ocasionalmente magnífica. Vou deixar que Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua e um sujeito de poucas palavras, tenha a palavra final. "Creio que sempre estaremos no espaço", disse ele em entrevista para o programa de história oral da Nasa. "Mas demoraremos mais do que os proponentes da exploração espacial gostariam para fazer coisas novas, e em alguns casos fatores externos ou forças fora de nosso controle terão de surgir para nos motivar, e é difícil antecipar o que pode e o que não pode acontecer".

Armstrong em seguida fez soar uma nota que certamente ecoará entre muitos de seus contemporâneos: "Nós fomos realmente privilegiados", ele disse, "por vivermos aquele momento da História no qual mudamos a forma pela qual o homem se vê, aquilo que ele pode se tornar e os lugares a que podemos ir".


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